quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Ao Músico Brasileiro!

Tem choro no cinema. E no DVD. E choro, e cinema, da melhor qualidade, ´Brasileirinho´, do finlandês Mika Kaurismäki

Onde a música popular brasileira esteve mais próxima da sua excelência, no samba ou no choro? Até hoje essa questão é indissolúvel, o certo é que nenhuma outra linguagem em nossa tradição musical popular estimula tanto interesse no exterior. Muitos dirão: ´O forró também´. Outros: ´O axé!´. Pode ser, mas o ponto central da questão é a excelência, não a popularidade, lá ou aqui. O choro, o samba... Nenhuma resposta. O documentário ´Brasileirinho´, do finlandês Mika Kaurismäki, reverencia esta excelência entre alguns representantes do choro atual.

O samba teve em ´O mistério do samba´ (Lula Buarque de Hollanda e Carolina Jabor) seu documentário ´definitivo´, embora concentrado na visão de Marisa Monte sobre a Portela. E outros, curtas e longas, sobre Noel Rosa, Nelson Cavaquinho, Nelson Sargento. Falta pelo menos um: claro, para o centenário Cartola. O choro tem em ´Brasileirinho´ sua obra-prima (mas quando contaremos, afinal, a história de Pixinguinha, Benedito Lacerda e Jacob do Bandolim?). Lançado no cinema em 2005, não exibido em Fortaleza e disponível em DVD há alguns meses, o filme do finlandês é uma exaltação aos chorões de hoje, daí seu subtítulo: ´Grandes encontros do choro contemporâneo´. Encontros na gafieira Estudantina e em outros palácios (também do samba), como o Teatro Municipal de Niterói. E outros mais informais, como no salão onde Yamandú Costa e o diretor musical Marcello Gonçalves, do Trio Madeira Brasil, ajeitam a unha.

Extravagâncias

Produção caprichosa, com ótimas direção e fotografia, ´Brasileirinho´ promove ainda rodas de choro na barca que leva à vizinha da Cidade Maravilhosa e ainda aos pés da escadaria da Penha. Ali, o Trio Madeira Brasil chama os flautistas Alexandre Maionese e Camunguelo; ´a menor big band do mundo´, Zé da Velha e Silvério Pontes; o saxofonista Humberto Araújo, os bandolinistas Joel Nascimento, Tiago Souza e Hamilton de Holanda; os 7 cordas Rogério Caetano e Rogério Souza; o outro violão de Carlinhos Leite, além dos manos Henrique e Beto Cazes . Todos para tocar o ´Cochichando´, de Pixinguinha, João de Barro e Alberto Ribeiro. Extravagâncias que dão uma idéia do nível da produção e da maravilhosa trilha, no DVD também compostas de deliciosas citações e disponibilizada em CD, de forma mais enxuta, pela Rob Digital.

Também nos extras, temos outras cinco faceirices contemporâneas: ´Machucando´ (Adalberto de Souza) com o Trio Madeira Brasil, Yamandú Costa, Zé da Velha, Silvério Pontes, Henrique Cazes, Beto Cazes e Netinho; ´Papo de Anjo´ (Radamés Gnattali) com Maurício Carrilho, Luciana Rabello, Cristóvão Bastos, Pedro Amorim, Marcelo Bernardes, Pedro Paes e Rui Alvim; ´Agüenta Seu Fulgêncio´ (Lourenço Lamartine/Jacob do Bandolim) com o Trio Madeira Brasil e ainda ´Foi uma Pedra que rolou´ (Pedro Caetano), com Teresa Cristina e grupo Semente, João Callado, Alfredo Del Penho, Luís Filipe de Lima, Rui Alvim e Trambique e, também na Lapa, ´Um Chorinho Pra Você´ (Severino Araújo) com Paulo Moura, Daniela Spielmann, Zé da Velha, Silvério Pontes, Márcio Almeida, Carlinhos 7 cordas, Laudir de Oliveira e Paulinho Black. Só uma pista para nos deleitarmos com outros momentos maravilhosos na companhia da música urbana mais antiga do Brasil, numa história narrada por Thalma de Freitas e pelos depoimentos de músicos como Joel Nascimento e Jorginho do Pandeiro. Pena que Zé da Velha não tenha sido tão bem explorado neste quesito como foi na hora de tocar. Pena também que faltou o pessoal de outros estados e o choro contemporâneo propriamente. Mas se entende.

ALGUMAS ALEGRIAS

Um Calo de Estimação (Zé Da Zilda / José Thadeu), com Teresa Cristina e Grupo Semente, João Callado, Rui Alvim e Trambique
Marambaia (Rubens Campos e Henricão), com Ronaldo Souza e família
Assanhado (Jacob do Bandolim), com Trio Madeira Brasil e Marcos Suzano
Chorinho de Gafieira (Astor Silva), com Paulo Moura, Zé da Velha, Silvério Pontes, Márcio Almeida, Carlinhos 7 cordas, Laudir de Oliveira e Paulinho Black
Formosa (Baden Powell / Vinícius de Moraes), com Yamandú Costa e Marcello Gonçalves e Trio Madeira Brasil, Daniela Spielman, Marcos Suzano, Beto Cazes, Alexandre Brasil e Elza Soares
Tico-Tico no Fubá (Zequinha de Abreu), com Ademilde Fonseca, Walter Silva, Márcio Hulk e Darly

DOCUMENTÁRIO

"Brasileirinho"
Mika Kaurismäki
R$ 44,90
1H30
2008
ROB DIGITAL

HENRIQUE NUNES
Repórter

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Moacyr Luz em Fortaleza!

Os shows do Samba do Trabalhador, conhecidos como Renascença, já viraram uma tradição carioca, nas tardes de segunda-feira. Mais recentemente, Moacyr Luz também faz a fuzarca nas imediações do aeroporto Santos Dumont, nas sextas. Hoje e amanhã, ele mostra sua musicalidade, que bebe direto na fonte do samba, mas não só, no Centro Cultural Banco do Nordeste e no Buoni Amici´s.
“O grupo do Felipe conhecia bastante as minhas músicas, que vamos apresentar juntos no show de sexta. Além disso, vai ter o repertório do Cartola, que está vivendo o seu centenário, e músicas de João Nogueira, as coisas minhas com Aldir, com Paulo César Pinheiro”, diz, referindo-se ao líder do grupo Policarpo e a Estrela de Madureira, o sambista e jornalista Felipe Araújo, responsável por amealhar a boa safra do gênero junto aos freqüentadores do Amici´s. O repertório também inclui suas novas parcerias com Sereno, do grupo Fundo de Quintal, “Vida minha vida”, gravada por Zeca Pagodinho, e “Que batuque é esse”, ambas previstas para “Batucando”, que deverá constar no próximo álbum de Moacyr.
Marcado para ser lançado no Dia de Reis, seis de janeiro, pela gravadora Biscoito Fino, o álbum tem as participações de Martinália, Luiz Melodia, Wilson das Neves, Ivan Lins, Alcione, Tantinho da Mangueira, Ivan Lins, Beth Carvalho, Martinho da Vila, entre três parcerias com Hermínio Bello de Carvalho, uma com Paulo César Pinheiro, três com Sereno, uma com Ivan Lins e outro samba, que deve ser daqueles, com Wilson das Neves. A direção musical é de Moacyr e Paulão 7 Cordas, com arranjos de Cristóvão Bastos, piano em quatro faixas, além de Mauro Diniz (cavaquinho) e de Beto Cazes, Esguleba, Pretinho da Serrinha (percussão. “Vamos fazer umas coisinhas, dando uma testada no repertório, que fiz recentemente com o Arlindo de Cruz, no Rival, ficou muito bacana”.
Recentemente também Moacyr lançou seu segundo livro: “Botequim de bêbado tem dono” (Desiderata), crônicas de bar narradas entre ilustrações do ilustre e reconhecido Chico Caruso. “Aquele outro era meio de comportamento, nesse novo conto histórias vividas em bares relevantes do Rio de Janeiro, como o Bar Brasil, o Beco do Rato, bares de agora e de outros tempos, histórias que ouvi falar”, comenta.

Show de Moacyr Luz. Hoje às19h30, no Centro Cultural Banco do Nordeste e amanhã, às 22h, no Buono Amici´s (Calçadão do Centro Dragão do Mar), com a discotecagem dos DJ´s Marquinhos e Guga de Castro.

Marcos Sacramento!

O cantor e compositor Marcos Sacramento interpreta clássicos e novidades do samba hoje à noite, no Anfiteatro do Centro Dragão do Mar.

Apesar de seus álbuns serem pautados pelo repertório do samba, apesar de conduzir seus arranjos em torno do respeito à tradição do ritmo, o cantor e compositor Marcos Sacramento considera-se longe de pertencer ao universo desta linguagem. Ele ressalta que, com todo o respeito devido ao samba, sua música não se integra ao contexto dos bambas. “Me sinto distante de comportamentos do tal ‘mundo do samba’. Jamais fiz parte deste mundo, por desinteresse e também pelo desinteresse do mundo do samba em relação a meu trabalho. Existem diferenças de meus traços comportamentais em relação aos estereótipos do samba, que existem de fato”, escancara o cantor, referindo-se a caracaterísticas como o timbre cheio de nuances de sua voz.
A praia, então, estaria mais próxima ao que se convenciona chamar de Música Popular Brasileira. Nadar contra a corrente, se for preciso. Foi assim que Sacramento subverteu fronteiras, em favor da criação da sua própria personalidade musical. Mesmo apresentando um formato pautado pela melhor tradição do samba dos anos 30 a 50, ele pouco a pouco vem afirmando uma produção mais contemporânea, em grande parte na companhia do violonista Luiz Flávio Alcofra, um de seus companheiros na noite de hoje, que terá também o caprichoso 7 cordas de Rogério Caetano e ainda o pandeiro e o cajón de Netinho Albuquerque.
“É uma formação enxuta, sem naipe de sopros que tem no disco, mas parece que tem 30 músicos. Você sabe que a realidade é outra, pra viajar com nove músicos tem que ser um Zeca Pagodinho. Mas você acaba tendo surpresas agradáveis: essa formação com estes violões no caso deles, explodiu um negócio, parece uma orquestra tocando. E o Netinho, tem uma levada... Fico feliz de mostrar meu trabalho de novo aí, não é uma formação light, ela tem pegada, sem timidez”. É o que conferiu ontem o público da Mostra Sesc Cariri.

Mais informações:Show do cantor e compositor Marcos Sacramento e grupo. Hoje, 21h, no Anfiteatro do Centro Cultural Dragão do Mar. Ingressos: R$ 10,00 e R$ 5,00 (meia). Contato: (85) 3488-8610.