segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Homenagem Merecida! Parabéns Carlão!


Carlão comanda com seu cavaquinho a tradicional roda de samba que há 30 anos o Bar do zé Bezerra "Tenho um violão para me acompanhar/ Tenho muitos amigos, eu sou popular/ Tenho a madrugada como companheira" (Diz que fui por aí, de Zé Keti)

No próximo domingo, Carlão completa 56 anos. Com o chapéu na cabeça, o cavaquinho em punho, a comemoração do aniversário servirá de pretexto para concretizar sua principal arte: transformar a vida em uma grande festa, com muito samba, cerveja, amigos e sorrisos. Ele ainda não definiu o formato do "evento", mas com certeza acontecerá no Bar do Zé Bezerra, sua segunda casa. Lá, Carlão impera sem ostentar poder. Comanda a roda e abre espaço para quem quiser chegar com o instrumento e participar do som coletivo. Fique à vontade, a casa acolhe com satisfação. Sem exageros, Carlão seria menos feliz sem sua roda de samba nas tardes de sábado e domingo. O bar perderia um pouco da magia com a ausência do mulato de voz mansa e de passadas lentas. Possui compromisso sambístico com dona Célia, filha do finado Zé Bezerra e atual proprietária do recinto, a paixão de Carlão está, acima de tudo, com a celebração do samba. Com o cavaquinho ou a voz, em qualquer boteco de esquina, ele pára. Se houver motivos, a roda logo se forma. Na boemia, com o ouvido apurado, aprendeu música sozinho. As primeiras batidas vieram com o pandeiro. Antônio Relojoeiro morava em frente à sua casa na infância, lá no Morro do Ouro. O vizinho gostava de festejos e, com freqüência, contratava uma banda de samba para tocar na sua residência. Carlão tinha lá seus 12 anos. O olho atentava para as mãos dos músicos. Gostava de observar. Se dessem sopa no pandeiro, ele corria e arriscava as primeiras batidas. Aprendeu pandeiro, mas assumiu o cavaquinho como seu principal instrumento. Já mais velho, dominando melhor o ritmo, escreveu a letra de um samba, mas não traçou destino de compositor. O irmão aproveitou e, sem avisar, inscreveu a música num concurso da escola. Não venceu. Ficou com o segundo lugar. Em vez de receber o violão - prêmio do primeiro colocado -, quase como uma providência, o vice levava um cavaquinho. O irmão o presenteou com o instrumento. Carlão declarou a intimação "então vamos montar uma banda". Chamaram mais dois amigos, a história caminhou. Não possuíam instrumentos e pediram emprestados. Um pegou o surdo, outro balançou o pandeiro, o irmão bateu no tamborim. Carlão, no cavaquinho, mesmo ainda amador, ensinou aos amigos. Eles moravam no Parque Araxá, daí conheceu as áreas, agraciou-se com uma garota, casou-se, mudou-se para a rua Carvalho Mota, onde reside até hoje. Na mudança, conheceu o Zé Bezerra, famoso por suas brutalidades, e o convenceu a tocar um samba naquelas áreas. Até conquistar a confiança do velho e firmar o seu cantinho, o sambista rodou inúmeros bares de Fortaleza. Carlão entende a cidade por uma geografia etílica. Sua biografia se confunde com a história dos inúmeros lugares por onde andou. Na Barra do Ceará, ele assumiu de vez o compromisso com o samba. No final da década de 70, o bairro abrigava um complexo com três casas de show: Saint Tropez, Reboco e Beco. No primeiro, aconteciam as batucadas. No domingo, Carlão ia para a praia, batia o racha com os amigos, depois, com o sol perto de se pôr, ele subia o monte para participar da roda. Ele tinha o contato de um tal de Osmar, assim mesmo, sem sobrenome. O cara, responsável pelo cavaquinho, deixava Carlão tocar em seu lugar, mas recebia o cachê. Empolgado com o aprendizado, o ainda aprendiz não se importava. No final da noite, depois da apresentação, ganhava uma janta: a primeira remuneração no ramo musical. De lá pra cá, Carlão rodou muito por Fortaleza. Havia domingos em que corria da Barra do Ceará para a Praia de Iracema. Entre os dois bairros, tocava também na Aldeota. Levava os instrumentos dentro do ônibus, quando muito conseguia um caminhão. Não chegou ao profissionalismo, mas tirou uma ponta com a música. Carlão ainda dividia o roteiro de bares e o samba com outra profissão. Já foi bancário, atendente de consultório médico. No emprego, ele sempre se responsabiliza pela organização das festas de confraternização. Há oito anos, aproximadamente, deixou de tocar por grana. Dava muito trabalho. O samba tornou-se hobby para preencher o extenso tempo livre. Atualmente, é técnico de raio-X. Bate a chapa dos pulmões alheios. Trabalha um dia sim e folga três. Talvez aí esteja o segredo do sorriso contínuo em sua face. Sem pressa e recém solteiro, ele vai levando a vida. Mantém-se jovem fazendo o samba amanhecer o dia.
Texto - Tiago Coutinho

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Época de Ouro!

Conjunto instrumental formado por Jacob do Bandolim, teve grande importância no movimento de resistência do choro, na década de 60. Com Jacob, o Época de Ouro lançou os discos "Chorinhos e Chorões", "Primas e Bordões" e "Vibrações", passando ao largo da febre de bossa nova que dominava os meios de comunicação. Participou com Elizeth Cardoso e o Zimbo Trio de um show memorável no Teatro João Caetano, gravado em disco mas não relançado em CD no Brasil. Depois da morte de Jacob, em 1969, o grupo se desfez por alguns anos, voltando a atuar em 1973 sob comando de César Faria, a convite de Paulinho da Viola, para o show "Sarau", dirigido por Sérgio Cabral, que marcou a redescoberta do choro na década. No bandolim, Déo Rian, apontado como sucessor pelo próprio Jacob. Em 76, Ronaldo de Souza passou a ser o bandolinista oficial do grupo. Em atividade até hoje, o Época de Ouro participou de shows e festivais como o Free Jazz Festival, em 1985 e o Projeto Pixinguinha. Em 1994 viajaram por todo o Brasil com o projeto Brasil Musical ao lado do pianista Arthur Moreira Lima, e em seguida foram a Frankfurt, na Alemanha, para uma série de apresentações. Muitos dos veteranos da formação tradicional ainda estão em atividade, como César Faria, Dino 7 Cordas e Jorginho do Pandeiro.