segunda-feira, 11 de abril de 2011

Adeus a mãe do Samba cearense!

O samba de Fortaleza está mais triste. Morreu, por volta das 15 horas do último sábado (9), Iraci de Souza Batista, a Dona Mocinha, proprietária do bar que leva seu nome, na Praia de Iracema, onde há 34 anos se reúne uma das mais tradicionais rodas de samba da Capital. Internada no hospital Gastroclínica há três meses, ela sofria de diabetes crônica e faleceu em decorrência de complicações da doença. O sepultamento ocorreu ontem, às 10 horas, no cemitério Jardim Metropolitano, com direito a uma emocionante roda de samba.

Nascida em 24 de dezembro de 1935, numa casa na Rua Padre Climério, 140, na Praia de Iracema – onde até hoje funciona seu bar -, foi batizada Iraci, mas eternizou-se como Mocinha, apelido dado pelo pai, José Batista, ainda na infância. Aos 15 anos, casou-se e um ano depois teve a primeira filha, Raulina. Aos 20, veio Raulino, hoje responsável pela administração do bar. Com 23 anos, Dona Mocinha despediu-se do marido Raimundo e, desde então, passou a dedicar-se apenas aos filhos e ao seu bar, aberto quando contava 25 anos de idade, como forma de aumentar a renda da família.
Aposentada pela Secretaria de Saúde do Estado, Dona Mocinha carregava a paixão pelo Carnaval desde pequena, quando, sob as vistas do pai, fazia questão de acompanhar os blocos que passavam pela Praia de Iracema. “Eu sempre gostei de Carnaval, mas não podia brincar porque o véi (o pai) não deixava. Ele não queria que eu brincasse”, contou a sambista, em entrevista ao O POVO, publicada em fevereiro do ano passado. Em 1979, pela primeira vez, desfilou pela escola de samba Girassol, agremiação cearense que ajudou a criar e que até hoje integra o carnaval de Fortaleza.
Daí pra frente, Dona Mocinha não conseguiu conter o amor pelo samba e passou a levar sua alegria também para as alas das baianas do carnaval carioca. “Desfilei lá pela primeira vez na (escola) União da Ilha, já de baiana. Ave Maria! Era uma alegria sem tamanho. Eu costurava pra fora e passava o ano juntando dinheiro”, lembrou, falando da sua escola de coração. Caprichosos de Pilares, Império Serrano, Portela e Grande Rio também contaram com a alegria de Dona Mocinha em seus desfiles.
Os laços Rio-Fortaleza se estreitaram tanto que o bar da cearense tornou-se ponto de parada obrigatória para muitos dos sambistas cariocas que visitavam Fortaleza. Dentre os artistas locais, a reverência à dama do samba é ainda maior. Todos os finais de semana, os bambas da cidade se reúnem em mesas na calçada de frente ao Bar da Mocinha para ecoar o clássicos do samba. O lugar tronou-se referência para cultura popular da cidade e desde 2009, o bar se torna um dos polos do Carnaval de Fortaleza.
Mesmo com a saúde fragilizada nos últimos anos, Dona Mocinha fez questão de participar da folia. De dentro do bar, até quando suas pernas puderam aguentar, ela viu a alegria se espalhar pelo seu redor e fez cumprir as palavras que nos dissera tempos antes: “Ah, o Carnaval eu não largo, só quando morrer”. A missa de 7º dia acontecerá na próxima sexta, 15, na Igreja de Santa Luzia, às 19 horas.

Fonte: http://www.opovo.com.br/app/opovo/vidaearte/2011/04/11/noticiavidaeartejornal,2124301/adeus-a-mae-do-samba-cearense.shtml