sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Samba de Buarque

A cantora Cristina Buarque é a atração de hoje do Projeto Policarpo Convida
Na companhia do grupo Policarpo e A Estrela de Madureira, mais um sambista “de responsa” vem dividir sua experiência com os amantes do ritmo. Trocando o Buoni Amici´s pelo anexo do restaurante Docentes e Decentes, na Varjota, o projeto que já trouxe Pedro Miranda, Eduardo Gallotti e Moyseis Marques apresenta Cristina Buarque, nome respeitado no Rio de Janeiro em matéria de samba.

Sambista mesmo, não uma dessas cantoras que aparecem do nada cantando samba, a carioca faz um trabalho ainda menos difundido que os dos irmãos Chico Buarque e Miúcha, mas de grande relevância para a música brasileira. Em sua primeira apresentação na cidade em 40 anos de carreira, ela será acompanhada por Felipe Araújo (voz e percussão), Bruno Goyanna (cavaco), Zé Renato (violão 7 cordas), Angelo (pandeiro), Marinaldo (bandolim) e Thales Catunda (surdo), além do violonista Alfredo Pessoa, do grupo Academia, e do percussionista Ecinho Ponce, do grupo Samba de Mesa, que se somam à galera do Policarpo.

De seu repertório, clássicos como “Quantas Lágrimas” (Manacéa), “Portela na Avenida” (Mauro Duarte/Paulo César Pinheiro) e “A Alegria Continua” (Mauro Duarte/Noca da Portela), todos registrados ao lado de Mauro Duarte em um disco de 1985, entre composições constantes dos álbuns “O samba informal de Mauro Duarte”, dedicado a Mauro junto ao grupo Samba de Fato, e “Cristina Duarte e Terreiro Grande”, em torno de uma parceria com o grupo paulistano Terreiro Grande.
A portelense filha de Sérgio Buarque de Holanda e Maria Amélia estreou em disco em 1974. “Cristina” trazia seu primeiro registro para o “Quantas Lágrimas” de Manacéa, entre “Tatuagem” (Ruy Guerra - Chico Buarque),“Ao amanhecer” (Cartola) e outros sambas de Noel, Lupicínio, Paulinho, Vinicius, Ismael Silva e Ivone Lara. A intimidade com o samba de raiz seria registrada dois anos depois em “Prato e Faca”, com sambas de Mijinha, Paulinho, Ivone e Manacéia. Ainda sob a produção de Fernando Faro, gravou “Arrebém” com hinos dos portelenses Mijinha e Francisco Santana, além de Geraldo Pereira, Elton Medeiros e Paulinho da Viola.

Em 79, participou de “Clementina e Convidados”, cantando “Tantas você fez” (Candeia), e “Ópera do Malandro”, de Chico Buarque, na “Se eu fosse o teu patrão”. Em 81, lançou “Vejo amanhecer”, com “Triste Baía da Guanabara” (Noveli e Cacaso) e o Época de Ouro em “Cantar” (Godogredo Guedes). Também participou do “Geraldo Pereira -Evocação V”. Gravou ainda álbum ao lado de Mauro Duarte. No mesmo ano (85), gravou “Aquele bilhetinho”(Nelson Cavaquinho, Augusto Garcez e Wilson Canegal), no álbum “As flores em vida - Nelson Cavaquinho”. Com Mauro Duarte, lançou, em 87, um compacto duplo com “Resgate” (Mauro Duarte e Paulo Cesar Pinheiro) e “Deixa eu viver na orgia” (Mauro).

Participou de álbuns em homenagem a Candeia e Paulo da Portela, do álbum do bloco Simpatia é Quase Amor e, em 90, lançou no mercado japonês “Resgate” (com Monarco, Manacéia, Velha Guarda da Portela, Orquestra de Cordas e Paulo Cesar Pinheiro). Em 95, estava no “Estácio & Flamengo - 100 anos de samba e amor” e lançava, com Henrique Cazes, o CD “Sem tostão... a crise não é boato”, em torno de Noel Rosa. Em 97, esteve no “Agô Pixinguinha”, produzido por Herminio Bello de Carvalho, com quem homenagearia Wilson Batista, no “Ganha-se Pouco, mas é divertido”, e participaria de “O Samba é Minha Nobreza”.

Ainda em 97, cantou com João Nogueira e Carlinhos Vergueiro no “Chico Buarque de Mangueira”. Em 98, participou das homenagens dos 20 anos de morte de Candeia e cantou com o mano Chico “Injuriado” em “As Cidades”. Em 2000, esteve no álbum “Tudo Azul”, cantando “Minha Vontade” (Chatim). Em 2001, gravou com Henrique Cazes, “Sem tostão 2... A crise continua”. E eis finalmente entre nós esta estrela da Lapa, da Portela, do Rio de Janeiro.

Show de Cristina Buarque e grupo Policarpo Quaresma & A Estrela de Madureira. Hoje, 22h, no anexo do Restaurante Docentes e Decentes (Rua Ana Bilhar, 1445, Varjota). Ingressos: R$ 25,00 (antecipado) e R$ 30,00 (na hora)
HENRIQUE NUNES
Repórter

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Cera, imagem e memória

Ao som de gravações em cera, a mostra “Fotografias de Músicos Cearenses” revive outros tempos, nos Correios. Na abertura, o grupo Vozes da Cera

A nova onda do samba carioca não é bem a praia de Miguel Ângelo de Azevedo, há 50 anos um mantenedor da tradição musical brasileira registrada - desde 1902 até algo em torno de 1960- nos famosos discos de cera. Sua discoteca, situada em sua casa, no bairro Rodolfo Teófilo, reúne 22 mil destes artefatos da indústria fonográfica, o que fez o pesquisador cearense ganhar fama nacional, a ponto de ter um projeto de digitalização do acervo bancado pela Petrobras. Ao celebrar meio século de respeito a memória musical cearense e brasileira, Nirez busca dar mais visibilidade a seu acervo, como comprova a exposição “Fotografias de Músicos Cearenses”, aberta hoje, às 17h, nos Correios, com composições menos conhecidas do período, interpretadas pelo grupo Vozes da Cera. Na mostra, plotagens (fotos ampliadas) de quase 80 ícones, nomes como Humberto Teixeira e Trio Nagô.

Entre 10 e 14 de novembro, os 50 anos do Arquivo Nirez foram tema de um seminário que o reuniu a outros pesquisadores musicais importantes, como o cearense Christiano Câmara e o carioca Humberto Franceschi. “Não foi melhor porque eu estava gripado. Além do Franceschi e do Cristiano, falando, respectivamente, sobre as primeiras gravações mecânicas e o cinema, teve o Marcelo Bonavides, que fez um trabalho sobre as cantoras antigas, do início do século XX, e ainda a Elba Braga Ramalho, sobre aspectos fonográficos de Luiz Gonzaga, também comentado pelo pesquisador Paulo Vanderley”, lembra. “Pretendo aproximar cada vez mais o Arquivo da sociedade”. Tanto que, afinal, começam a surgir iniciativas ligadas a este seu patrimônio particular, caso do grupo Vozes da Ceara, criado por uma das responsáveis pela digitalização do acervo, a musicista Mireyka Falcão.

Mais informações:
Abertura da exposição ´Fotografias de Músicos Cearenses´ Hoje, 17h, no Espaço Cultural Correios (Rua Senador Alencar, nº 38, Centro, Fortaleza). Visitação até 17 de janeiro. De segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, e aos sábados, das 8h às 12h.Contato: 3255-7142. O Arquivo Nirez fica na Rua Professor João Bosco, 560, Rodolfo Teófilo (Próximo às avenidas José Bastos e Jovita Feitosa). Visitações podem ser marcadas pelo fone 3281-6949.

HENRIQUE NUNES
Repórter

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Novo 'Lay out' do Bar Zé Bezerra!

O Bar está com nova cara! De pintura nova e caricaturas super bem feitas de sambistas famosos e dos que tocam no Bar do Zé Bezerra! Silva, Neto , Carlão, Chico, Carioca, Coleguinha, Nelson, Vicente...! Confira nas fotos abaixo!




quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Ao Músico Brasileiro!

Tem choro no cinema. E no DVD. E choro, e cinema, da melhor qualidade, ´Brasileirinho´, do finlandês Mika Kaurismäki

Onde a música popular brasileira esteve mais próxima da sua excelência, no samba ou no choro? Até hoje essa questão é indissolúvel, o certo é que nenhuma outra linguagem em nossa tradição musical popular estimula tanto interesse no exterior. Muitos dirão: ´O forró também´. Outros: ´O axé!´. Pode ser, mas o ponto central da questão é a excelência, não a popularidade, lá ou aqui. O choro, o samba... Nenhuma resposta. O documentário ´Brasileirinho´, do finlandês Mika Kaurismäki, reverencia esta excelência entre alguns representantes do choro atual.

O samba teve em ´O mistério do samba´ (Lula Buarque de Hollanda e Carolina Jabor) seu documentário ´definitivo´, embora concentrado na visão de Marisa Monte sobre a Portela. E outros, curtas e longas, sobre Noel Rosa, Nelson Cavaquinho, Nelson Sargento. Falta pelo menos um: claro, para o centenário Cartola. O choro tem em ´Brasileirinho´ sua obra-prima (mas quando contaremos, afinal, a história de Pixinguinha, Benedito Lacerda e Jacob do Bandolim?). Lançado no cinema em 2005, não exibido em Fortaleza e disponível em DVD há alguns meses, o filme do finlandês é uma exaltação aos chorões de hoje, daí seu subtítulo: ´Grandes encontros do choro contemporâneo´. Encontros na gafieira Estudantina e em outros palácios (também do samba), como o Teatro Municipal de Niterói. E outros mais informais, como no salão onde Yamandú Costa e o diretor musical Marcello Gonçalves, do Trio Madeira Brasil, ajeitam a unha.

Extravagâncias

Produção caprichosa, com ótimas direção e fotografia, ´Brasileirinho´ promove ainda rodas de choro na barca que leva à vizinha da Cidade Maravilhosa e ainda aos pés da escadaria da Penha. Ali, o Trio Madeira Brasil chama os flautistas Alexandre Maionese e Camunguelo; ´a menor big band do mundo´, Zé da Velha e Silvério Pontes; o saxofonista Humberto Araújo, os bandolinistas Joel Nascimento, Tiago Souza e Hamilton de Holanda; os 7 cordas Rogério Caetano e Rogério Souza; o outro violão de Carlinhos Leite, além dos manos Henrique e Beto Cazes . Todos para tocar o ´Cochichando´, de Pixinguinha, João de Barro e Alberto Ribeiro. Extravagâncias que dão uma idéia do nível da produção e da maravilhosa trilha, no DVD também compostas de deliciosas citações e disponibilizada em CD, de forma mais enxuta, pela Rob Digital.

Também nos extras, temos outras cinco faceirices contemporâneas: ´Machucando´ (Adalberto de Souza) com o Trio Madeira Brasil, Yamandú Costa, Zé da Velha, Silvério Pontes, Henrique Cazes, Beto Cazes e Netinho; ´Papo de Anjo´ (Radamés Gnattali) com Maurício Carrilho, Luciana Rabello, Cristóvão Bastos, Pedro Amorim, Marcelo Bernardes, Pedro Paes e Rui Alvim; ´Agüenta Seu Fulgêncio´ (Lourenço Lamartine/Jacob do Bandolim) com o Trio Madeira Brasil e ainda ´Foi uma Pedra que rolou´ (Pedro Caetano), com Teresa Cristina e grupo Semente, João Callado, Alfredo Del Penho, Luís Filipe de Lima, Rui Alvim e Trambique e, também na Lapa, ´Um Chorinho Pra Você´ (Severino Araújo) com Paulo Moura, Daniela Spielmann, Zé da Velha, Silvério Pontes, Márcio Almeida, Carlinhos 7 cordas, Laudir de Oliveira e Paulinho Black. Só uma pista para nos deleitarmos com outros momentos maravilhosos na companhia da música urbana mais antiga do Brasil, numa história narrada por Thalma de Freitas e pelos depoimentos de músicos como Joel Nascimento e Jorginho do Pandeiro. Pena que Zé da Velha não tenha sido tão bem explorado neste quesito como foi na hora de tocar. Pena também que faltou o pessoal de outros estados e o choro contemporâneo propriamente. Mas se entende.

ALGUMAS ALEGRIAS

Um Calo de Estimação (Zé Da Zilda / José Thadeu), com Teresa Cristina e Grupo Semente, João Callado, Rui Alvim e Trambique
Marambaia (Rubens Campos e Henricão), com Ronaldo Souza e família
Assanhado (Jacob do Bandolim), com Trio Madeira Brasil e Marcos Suzano
Chorinho de Gafieira (Astor Silva), com Paulo Moura, Zé da Velha, Silvério Pontes, Márcio Almeida, Carlinhos 7 cordas, Laudir de Oliveira e Paulinho Black
Formosa (Baden Powell / Vinícius de Moraes), com Yamandú Costa e Marcello Gonçalves e Trio Madeira Brasil, Daniela Spielman, Marcos Suzano, Beto Cazes, Alexandre Brasil e Elza Soares
Tico-Tico no Fubá (Zequinha de Abreu), com Ademilde Fonseca, Walter Silva, Márcio Hulk e Darly

DOCUMENTÁRIO

"Brasileirinho"
Mika Kaurismäki
R$ 44,90
1H30
2008
ROB DIGITAL

HENRIQUE NUNES
Repórter

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Moacyr Luz em Fortaleza!

Os shows do Samba do Trabalhador, conhecidos como Renascença, já viraram uma tradição carioca, nas tardes de segunda-feira. Mais recentemente, Moacyr Luz também faz a fuzarca nas imediações do aeroporto Santos Dumont, nas sextas. Hoje e amanhã, ele mostra sua musicalidade, que bebe direto na fonte do samba, mas não só, no Centro Cultural Banco do Nordeste e no Buoni Amici´s.
“O grupo do Felipe conhecia bastante as minhas músicas, que vamos apresentar juntos no show de sexta. Além disso, vai ter o repertório do Cartola, que está vivendo o seu centenário, e músicas de João Nogueira, as coisas minhas com Aldir, com Paulo César Pinheiro”, diz, referindo-se ao líder do grupo Policarpo e a Estrela de Madureira, o sambista e jornalista Felipe Araújo, responsável por amealhar a boa safra do gênero junto aos freqüentadores do Amici´s. O repertório também inclui suas novas parcerias com Sereno, do grupo Fundo de Quintal, “Vida minha vida”, gravada por Zeca Pagodinho, e “Que batuque é esse”, ambas previstas para “Batucando”, que deverá constar no próximo álbum de Moacyr.
Marcado para ser lançado no Dia de Reis, seis de janeiro, pela gravadora Biscoito Fino, o álbum tem as participações de Martinália, Luiz Melodia, Wilson das Neves, Ivan Lins, Alcione, Tantinho da Mangueira, Ivan Lins, Beth Carvalho, Martinho da Vila, entre três parcerias com Hermínio Bello de Carvalho, uma com Paulo César Pinheiro, três com Sereno, uma com Ivan Lins e outro samba, que deve ser daqueles, com Wilson das Neves. A direção musical é de Moacyr e Paulão 7 Cordas, com arranjos de Cristóvão Bastos, piano em quatro faixas, além de Mauro Diniz (cavaquinho) e de Beto Cazes, Esguleba, Pretinho da Serrinha (percussão. “Vamos fazer umas coisinhas, dando uma testada no repertório, que fiz recentemente com o Arlindo de Cruz, no Rival, ficou muito bacana”.
Recentemente também Moacyr lançou seu segundo livro: “Botequim de bêbado tem dono” (Desiderata), crônicas de bar narradas entre ilustrações do ilustre e reconhecido Chico Caruso. “Aquele outro era meio de comportamento, nesse novo conto histórias vividas em bares relevantes do Rio de Janeiro, como o Bar Brasil, o Beco do Rato, bares de agora e de outros tempos, histórias que ouvi falar”, comenta.

Show de Moacyr Luz. Hoje às19h30, no Centro Cultural Banco do Nordeste e amanhã, às 22h, no Buono Amici´s (Calçadão do Centro Dragão do Mar), com a discotecagem dos DJ´s Marquinhos e Guga de Castro.

Marcos Sacramento!

O cantor e compositor Marcos Sacramento interpreta clássicos e novidades do samba hoje à noite, no Anfiteatro do Centro Dragão do Mar.

Apesar de seus álbuns serem pautados pelo repertório do samba, apesar de conduzir seus arranjos em torno do respeito à tradição do ritmo, o cantor e compositor Marcos Sacramento considera-se longe de pertencer ao universo desta linguagem. Ele ressalta que, com todo o respeito devido ao samba, sua música não se integra ao contexto dos bambas. “Me sinto distante de comportamentos do tal ‘mundo do samba’. Jamais fiz parte deste mundo, por desinteresse e também pelo desinteresse do mundo do samba em relação a meu trabalho. Existem diferenças de meus traços comportamentais em relação aos estereótipos do samba, que existem de fato”, escancara o cantor, referindo-se a caracaterísticas como o timbre cheio de nuances de sua voz.
A praia, então, estaria mais próxima ao que se convenciona chamar de Música Popular Brasileira. Nadar contra a corrente, se for preciso. Foi assim que Sacramento subverteu fronteiras, em favor da criação da sua própria personalidade musical. Mesmo apresentando um formato pautado pela melhor tradição do samba dos anos 30 a 50, ele pouco a pouco vem afirmando uma produção mais contemporânea, em grande parte na companhia do violonista Luiz Flávio Alcofra, um de seus companheiros na noite de hoje, que terá também o caprichoso 7 cordas de Rogério Caetano e ainda o pandeiro e o cajón de Netinho Albuquerque.
“É uma formação enxuta, sem naipe de sopros que tem no disco, mas parece que tem 30 músicos. Você sabe que a realidade é outra, pra viajar com nove músicos tem que ser um Zeca Pagodinho. Mas você acaba tendo surpresas agradáveis: essa formação com estes violões no caso deles, explodiu um negócio, parece uma orquestra tocando. E o Netinho, tem uma levada... Fico feliz de mostrar meu trabalho de novo aí, não é uma formação light, ela tem pegada, sem timidez”. É o que conferiu ontem o público da Mostra Sesc Cariri.

Mais informações:Show do cantor e compositor Marcos Sacramento e grupo. Hoje, 21h, no Anfiteatro do Centro Cultural Dragão do Mar. Ingressos: R$ 10,00 e R$ 5,00 (meia). Contato: (85) 3488-8610.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Homenagem Merecida! Parabéns Carlão!


Carlão comanda com seu cavaquinho a tradicional roda de samba que há 30 anos o Bar do zé Bezerra "Tenho um violão para me acompanhar/ Tenho muitos amigos, eu sou popular/ Tenho a madrugada como companheira" (Diz que fui por aí, de Zé Keti)

No próximo domingo, Carlão completa 56 anos. Com o chapéu na cabeça, o cavaquinho em punho, a comemoração do aniversário servirá de pretexto para concretizar sua principal arte: transformar a vida em uma grande festa, com muito samba, cerveja, amigos e sorrisos. Ele ainda não definiu o formato do "evento", mas com certeza acontecerá no Bar do Zé Bezerra, sua segunda casa. Lá, Carlão impera sem ostentar poder. Comanda a roda e abre espaço para quem quiser chegar com o instrumento e participar do som coletivo. Fique à vontade, a casa acolhe com satisfação. Sem exageros, Carlão seria menos feliz sem sua roda de samba nas tardes de sábado e domingo. O bar perderia um pouco da magia com a ausência do mulato de voz mansa e de passadas lentas. Possui compromisso sambístico com dona Célia, filha do finado Zé Bezerra e atual proprietária do recinto, a paixão de Carlão está, acima de tudo, com a celebração do samba. Com o cavaquinho ou a voz, em qualquer boteco de esquina, ele pára. Se houver motivos, a roda logo se forma. Na boemia, com o ouvido apurado, aprendeu música sozinho. As primeiras batidas vieram com o pandeiro. Antônio Relojoeiro morava em frente à sua casa na infância, lá no Morro do Ouro. O vizinho gostava de festejos e, com freqüência, contratava uma banda de samba para tocar na sua residência. Carlão tinha lá seus 12 anos. O olho atentava para as mãos dos músicos. Gostava de observar. Se dessem sopa no pandeiro, ele corria e arriscava as primeiras batidas. Aprendeu pandeiro, mas assumiu o cavaquinho como seu principal instrumento. Já mais velho, dominando melhor o ritmo, escreveu a letra de um samba, mas não traçou destino de compositor. O irmão aproveitou e, sem avisar, inscreveu a música num concurso da escola. Não venceu. Ficou com o segundo lugar. Em vez de receber o violão - prêmio do primeiro colocado -, quase como uma providência, o vice levava um cavaquinho. O irmão o presenteou com o instrumento. Carlão declarou a intimação "então vamos montar uma banda". Chamaram mais dois amigos, a história caminhou. Não possuíam instrumentos e pediram emprestados. Um pegou o surdo, outro balançou o pandeiro, o irmão bateu no tamborim. Carlão, no cavaquinho, mesmo ainda amador, ensinou aos amigos. Eles moravam no Parque Araxá, daí conheceu as áreas, agraciou-se com uma garota, casou-se, mudou-se para a rua Carvalho Mota, onde reside até hoje. Na mudança, conheceu o Zé Bezerra, famoso por suas brutalidades, e o convenceu a tocar um samba naquelas áreas. Até conquistar a confiança do velho e firmar o seu cantinho, o sambista rodou inúmeros bares de Fortaleza. Carlão entende a cidade por uma geografia etílica. Sua biografia se confunde com a história dos inúmeros lugares por onde andou. Na Barra do Ceará, ele assumiu de vez o compromisso com o samba. No final da década de 70, o bairro abrigava um complexo com três casas de show: Saint Tropez, Reboco e Beco. No primeiro, aconteciam as batucadas. No domingo, Carlão ia para a praia, batia o racha com os amigos, depois, com o sol perto de se pôr, ele subia o monte para participar da roda. Ele tinha o contato de um tal de Osmar, assim mesmo, sem sobrenome. O cara, responsável pelo cavaquinho, deixava Carlão tocar em seu lugar, mas recebia o cachê. Empolgado com o aprendizado, o ainda aprendiz não se importava. No final da noite, depois da apresentação, ganhava uma janta: a primeira remuneração no ramo musical. De lá pra cá, Carlão rodou muito por Fortaleza. Havia domingos em que corria da Barra do Ceará para a Praia de Iracema. Entre os dois bairros, tocava também na Aldeota. Levava os instrumentos dentro do ônibus, quando muito conseguia um caminhão. Não chegou ao profissionalismo, mas tirou uma ponta com a música. Carlão ainda dividia o roteiro de bares e o samba com outra profissão. Já foi bancário, atendente de consultório médico. No emprego, ele sempre se responsabiliza pela organização das festas de confraternização. Há oito anos, aproximadamente, deixou de tocar por grana. Dava muito trabalho. O samba tornou-se hobby para preencher o extenso tempo livre. Atualmente, é técnico de raio-X. Bate a chapa dos pulmões alheios. Trabalha um dia sim e folga três. Talvez aí esteja o segredo do sorriso contínuo em sua face. Sem pressa e recém solteiro, ele vai levando a vida. Mantém-se jovem fazendo o samba amanhecer o dia.
Texto - Tiago Coutinho

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Época de Ouro!

Conjunto instrumental formado por Jacob do Bandolim, teve grande importância no movimento de resistência do choro, na década de 60. Com Jacob, o Época de Ouro lançou os discos "Chorinhos e Chorões", "Primas e Bordões" e "Vibrações", passando ao largo da febre de bossa nova que dominava os meios de comunicação. Participou com Elizeth Cardoso e o Zimbo Trio de um show memorável no Teatro João Caetano, gravado em disco mas não relançado em CD no Brasil. Depois da morte de Jacob, em 1969, o grupo se desfez por alguns anos, voltando a atuar em 1973 sob comando de César Faria, a convite de Paulinho da Viola, para o show "Sarau", dirigido por Sérgio Cabral, que marcou a redescoberta do choro na década. No bandolim, Déo Rian, apontado como sucessor pelo próprio Jacob. Em 76, Ronaldo de Souza passou a ser o bandolinista oficial do grupo. Em atividade até hoje, o Época de Ouro participou de shows e festivais como o Free Jazz Festival, em 1985 e o Projeto Pixinguinha. Em 1994 viajaram por todo o Brasil com o projeto Brasil Musical ao lado do pianista Arthur Moreira Lima, e em seguida foram a Frankfurt, na Alemanha, para uma série de apresentações. Muitos dos veteranos da formação tradicional ainda estão em atividade, como César Faria, Dino 7 Cordas e Jorginho do Pandeiro.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Adoniran Barbosa!

Principal compositor de samba paulista, João Rubinato teve várias profissões até participar do programa de calouros de Jorge Amaral cantando "Filosofia", de Noel Rosa, em 1933. Nessa época já tinha composições próprias, e em 1935 teve seu primeiro samba gravado, a marcha "Dona Boa", em parceria com J. Aimberê, da qual fez a letra. Nos anos 40 trabalhou na Rádio Record, já com o pseudônimo que o consagrou, fazendo personagens cômicos em radioteatro. Trabalhou em cinema e a partir de 1950 o grupo Demônios da Garoa passou a gravar diversas composições suas. Seu primeiro sucesso foi "Saudosa Maloca", de 1951. Seu estilo é caracterizado pelo linguajar típico dos imigrantes italianos do Brás, quase sempre com teor cômico e revelando a vida na periferia. Entre seus maiores sucessos estão "Trem das Onze", "Samba do Arnesto", "Tiro ao Álvaro" e "Bom Dia, Tristeza", em parceria com Vinicius de Moraes.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

João Nogueira

Carioca, aprendeu a tocar violão com o pai, o advogado e músico João Batista Nogueira. Na adolescência começou a compor sambas para os blocos carnavalescos do bairro do Méier, onde morava, até que em 1968 sua composição "Espera, ó Nega" foi gravada por um grupo de sambistas. Sua estréia profissional foi em 1970, quando Elizeth Cardoso gravou sua música "Corrente de Aço", inserindo João Nogueira definitivamente no meio musical. Como compositor, teve músicas gravadas por diversos intérpretes como Elis Regina, Clara Nunes, Emílio Santiago, Beth Carvalho, Alcione e outros. Em 1971 ingressou na ala dos compositores da Portela (com o samba "Sonho de Bamba") e foi fundador da escola de samba Tradição. Lançou em 1974 o LP "E Lá Vou Eu", um de seus grandes sucessos, seguido por "Vem que Tem", "Espelho" e vários outros discos. Entre os sucessos desses lançamentos, "Mineira" (com P.C. Pinheiro), "Chorando pelos Dedos" (com Claudio Jorge) e "O Passado da Portela" (Monarco). Foi fundador, ao lado de outros sambistas, do Clube do Samba, para preservar e divulgar o samba carioca. O LP "Clube do Samba" foi lançado pela Polygram em 1980, incluindo "Súplica" (com P.C. Pinheiro) e "Enganadora" (Monarco/ A. Lopes). Outros sambas interpretados por João Nogueira que se tornaram populares são "Se Segura, Segurança" (com Edil Pacheco/ Dalmo Castelo), "É Disso que o Povo Gosta" (Carlinhos Vergueiro), "Cachaça de Rolha" (com P.C. Pinheiro).

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Nelson Sargento!

Ainda na infância foi morar no morro da Mangueira, onde logo conheceu Cartola e Nelson Cavaquinho, com quem aprendeu a tocar violão. O apelido "Sargento" veio de sua época no exército. Entrou para a ala dos compositores da Mangueira levado por Carlos Cachaça, e compôs sambas-enredo para a escola na década de 50, como por exemplo "Cântico à Natureza" (com Jamelão/ Alfredo Português), de 1955. Nos anos 60 freqüentava e bar Zicartola, onde conheceu outros sambistas e músicos da zona sul carioca. Participou, convidado por Hermínio Bello de Carvalho, do espetáculo "Rosa de Ouro" (1965), ao lado de Elton Medeiros, Clementina de Jesus, Araci Cortes e Paulinho da Viola, entre outros. Em seguida integrou o conjunto A Voz do Morro, e com ele gravou "Roda de Samba 2", um marco do gênero. Seu maior sucesso, "Agoniza Mas Não Morre", foi lançado em 1978 por Beth Carvalho e tornou-se um hino de resistência da cultura do samba carioca. Outros sambas seus de sucesso são "Idioma Esquisito", "Falso Amor Sincero", "Vai Dizer a Ela" (com Carlos Marreta), "Nas Asas da Canção" (com Dona Ivone Lara) Nos anos 90 gravou discos no Japão, incluindo composições inéditas de seu parceiro Cartola. Foi tema do documentário "Nelson Sargento", de Estêvão Pantoja, lançado e premiado no final da década de 90. Paralelamente à atividade de músico, Nelson Sargento é também escritor (já lançou dois livros), ator (trabalhou em "O Primeiro Dia", de Walter Salles e Daniela Thomas e "Orfeu do Carnaval" de Cacá Diegues) e pintor primitivista, atividade que desenvolveu graças ao conhecimento obtido na profissão de pintor de paredes, que exerceu por vários anos.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Cartola

Considerado o maior sambista da história por diversos músicos, Cartola nasceu no Rio e passou a infância no bairro de Laranjeiras. Dificuldades financeiras obrigaram a família numerosa a mudar-se para o morro da Mangueira, onde então começava a despontar uma pequena favela. Na Mangueira fez logo amizade com Carlos Cachaça e outros bambas, se iniciando no mundo da malandragem e do samba. Arranjou emprego de servente de obra, e passou a usar um chapéu para se proteger do cimento que caía de cima. Era um chapéu-coco, mas o apelido Cartola pegou assim mesmo. Com seus amigos do morro criou o Bloco dos Arengueiros, cujo núcleo em 1928 fundou a Estação Primeira de Mangueira, a verde-rosa, nome e cores escolhidos por Cartola, que compôs também o primeiro samba, "Chega de Demanda". Seus sambas se popularizaram nos anos 30 em vozes ilustres como Francisco Alves, Mário Reis, Silvio Caldas e Carmen Miranda. Mas no início dos anos 40, Cartola desaparece do cenário. Pouco se sabe sobre essa época além de que brigou com os amigos da Mangueira e que ficou mal depois da morte de Deolinda, a mulher com quem vivia. Especulou-se até que houvesse morrido. Cartola só foi reencontrado em 1956 pelo jornalista Sérgio Porto, trabalhando como lavador de carros. Porto tratou de promover a volta de Cartola, levando-o a programas de rádio e fazendo-o compor novos sambas para serem gravados. Em 1964 Cartola e a esposa Zica abriram um bar-restaurante-casa de espetáculos na rua da Carioca, o Zicartola, que promovia shows de samba e boa comida, reunindo no mesmo lugar a juventude bronzeada da Zona Sul carioca e os sambistas do morro. O Zicartola fechou as portas algum tempo depois, e o compositor continuou com seu emprego publico e compondo seus sambas. Em 1974 gravou o primeiro de seus quatro discos solo, e sua carreira tomou impulso de novo com clássicos instantâneos como "As Rosas Não Falam", "O Mundo É um Moinho", "Acontece", "O Sol Nascerá" (com Elton Medeiros), "Quem Me Vê Sorrindo" (com Carlos Cachaça), "Cordas de Aço" e "Alegria". Ainda nos anos 70 mudou-se da Mangueira para uma casa em Jacarepaguá, onde morou até a morte.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

História dos Bambas!

Nelson Cavaquinho

Carioca, adotou o apelido Nelson Cavaquinho desde jovem, quando tocava o instrumento nas rodas de samba promovidas pelos operários da fábrica em que trabalhava. Alegando que o instrumento era muito pequeno, passou para o violão. Na década de 30 aproximou-se de sambistas da Mangueira, como Cartola, Carlos Cachaça e Zé da Zilda, para quem passou a mostrar seus sambas simples e fundamentais. Por essa época, vendia-os por pouco dinheiro. Começou a fazer algum sucesso como compositor nos anos 40, quando Cyro Monteiro gravou algumas de suas músicas. Em meados da década de 50 conheceu o parceiro Guilherme de Brito, com quem compôs sambas como "A Flor e o Espinho" (com Alcides Caminha), "Folhas Secas", Quando Eu Me Chamar Saudade" e "Pranto de Poeta". Foi uma das atrações do bar Zicartola, mantido por Cartola e a esposa Zica, onde foi descoberto, em meados dos anos 60, pelos intelectuais. Nos anos 60 teve músicas gravadas por Elizeth Cardoso, e em 1966 a CBS lançou um disco só com composições suas, com a cantora Telma Costa, produzido por Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, em que aparece também como intérprete em algumas faixas. Com sua voz rouca, deixou gravados outros discos, em que interpreta, além das já citadas, "O Bem e o Mal" (com G. de Brito), "Juízo Final" (com Elcio Soares), "Pode Sorrir" (com G. de Brito), "Eu e as Flores" (com Jair do Cavaquinho), "Rugas" (com Ary Monteiro/ Garcez), "Rei Vadio" (com Joaquim), "Vou Partir" (com Jair Costa), "Minha Festa" (com G. de Brito), "Degraus da Vida" (com Cesar Brasil/ Antônio Braga), "Luto" (com Sebastião Neves/ G. de Brito), "Notícia" (com Alcides Bahia/ Alcides Caminha), "Palhaço" (com Oswaldo Martins/ Washington). Consagrado como um dos maiores sambistas do Brasil, foi gravado por diversos cantores, desde Chico Buarque e Paulinho da Viola até Arnaldo Antunes, que fez uma recriação para "Juízo Final" em seus disco "O Silêncio".


sexta-feira, 27 de junho de 2008

Domingo de Churrasco No Zé Bezerra!






Muita carne e samba regado à sempre geladíssima cerva !
O churrasqueiro Gildo num deixou ninguém com fome!
Nas fotos Edglê, João Davi, Joelson e a Aline(Dona Esponja)!

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Música sobre o Bar Zé Bezerra!


A banda cearense Breculê compôs uma música sobre o bar do Zé! Posso adiantar que a banda é muito boa! Parabéns!


A música está disponível no site www.myspace.com/brecule e se chama Barruada Gá-gá!


Lá vocês encontraram também a história da banda, outras músicas e muito mais!

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Hoje é o dia do Choro!

Há 111 anos, nascia Pixinguinha. Até a biografia de Sérgio Cabral, a data se referia a 1898.

O que seria do choro, da música brasileira, sem Pixinguinha? Certamente, ainda fascinante. Mas muito, muito desfalcada. Há 30 anos, o Projeto Pixinguinha traduziu ao país, junto a “Pixinguinha - vida e obra”, de Sérgio Cabral, um pouco mais da importância deste compositor, instrumentista, arranjador e orquestrador que, sem negar a influência do jazz, em alguns momentos, foi mesmo o grande responsável pela sistematização e afirmação do choro, enquanto uma linguagem de melodia e de improviso com características extremamente brasileiras. A pergunta se refaz: o que seria da música sem Pixinguinha?

Alfredo da Rocha Viana Filho segue reverenciado. A reedição, pela Funarte, da biografia, escrita e atualizada pelo jornalista Sérgio Cabral, é o traço mais nítido da importância de uma trajetória concluída há 35 anos. A entidade é responsável pelo Projeto Pixinguinha, marco da disseminação da música brasileira, cuja continuidade estaria sendo colocada em dúvida. “Um crime de lesa-cultura”, lamenta, em conversa por e-mail, cuja íntegra está ao lado, Hermínio Bello de Carvalho, idealizador e produtor do projeto, parceiro de Pixinga e um dos últimos a falar com ele.

“O Projeto Pixinguinha está mantido e percorrerá todos os estados brasileiros na próxima edição. Os municípios ainda não foram selecionados. Não há previsão de cortes; ao contrário, a previsão de orçamento para 2008, ainda não confirmada, é maior do que a da última edição do Projeto”, esclarece a assessoria de imprensa da Funarte, em consulta a seu Diretor do Centro da Música, Pedro Müller.

Reverências ao santo

Em Fortaleza, Juazeiro do Norte e Sousa (PB), os centros culturais do Banco do Nordeste promovem hoje, às 12h e 18h30, uma série de concertos em reverência ao Dia Nacional do Choro, algo que deveria ser mais um feriado nacional. E que é, coincidência celestial, para os fluminenses, Dia de São Jorge, o “Santo Guerreiro” padroeiro da antiga Guanabara de que falam Moacyr Luz e Paulo César Pinheiro na letra de “Som de Prata”, que transcrevemos nesta página.

Hoje, então, Fortaleza recebe os sons do Quinteto de Sopros Alberto Nepomuceno, com participação do multiinstrumentista Luizinho Duarte. No Cariri, é a vez dos chorões João Nicodemos e Jair Santos. Em Sousa, o trio Chorisso, de violão, flauta e cavaquinho. Amanhã, à espera do Pixinguinha, prestamo-lhe outra homenagem à data com a apresentação da cantora Fhátima Santos e dos instrumentistas Tarcísio Sardinha (violão), Tito Freitas (piano), Márcio Resende (sax e flauta) e Fernando Tavares (pandeiro). O show “Pixinguinha - linguagem de amor universal” acontece às 20h de amanhã, no Teatro do Centro Dragão do Mar.

São Pixinguinha

Antes de se tornar Pixinguinha, o endiabrado flautista que conquistou o mundo através de algumas viagens a Paris com Os Oito Batutas, fora chamado, familiarmente, de Pinzindim, Pechinguinha, Pixingui e até Carne Assada. Em 1914, editou o tango “Dominante”, sua primeira composição. Logo depois gravaria a polca “Carne Assada”... Há 90 anos, enfrentou a “Espanhola”, devastadora epidemia de gripe que assolou o Rio de Janeiro, trabalhando com o grupo Caxangá, que daria origem aos Oito Batutas, alguns anos depois, mesmo após alguns embates autorais com Sinhô.

Por alegações que vão de problemas dentários a efeitos de sua aptidão para a bebida, trocou a flauta pelo saxofone, no qual manteve-se genial, sobretudo entre as polêmicas parcerias com o flautista Benedito Lacerda, acusado de haver se apropriado de suas composições, em condições duvidosas. Idolatrado até hoje, Pixinguinha partiu no Carnaval de 73, prestes a batizar um afilhado na Igreja de Nossa Senhora da Paz. Sob a bênção de São Jorge, levou sua flauta mais longe.

SOM DE PRATA
Moacyr Luz/Paulo César Pinheiro

Nasceu no Rio de Janeiro
Dia do santo guerreiro
Naquele tempo que passou
Foi o maior mestre do choro
Tinha um coração de ouro
E que bom compositor
Foi carinhoso e foi ingênuo
E na roda dos boêmios
Sua flauta era rainha
E em samba, choro e serenata
Como era doce o som de prata, doutor
Que a flauta tinha
O embaixador dessa cidade
Meu Deus do céu, ai que saudade que dá
Do velho Pixinguinha
Filho da terra de sangue
Sangue de Malê
De uma falange do reinado
Filho de Ogum, de São Jorge, no Batuquegê
De Benguelê, de Iaô
Rainha Ginga
É que sua avó era africana
A rezadeira de Aruanda, vovó
Vovó Cambinda
Só quem morre dentro de uma igreja
Virá orixá, louvado seja Senhor
Meu santo Pixinguinha
E em samba, choro e serenata
Como era doce o som de prata, doutor
Que a flauta tinha
O embaixador dessa cidade
Meu Deus do céu, ai que saudade que dá
Do velho Pixinguinha
Ele é de Benguelê
Ele é de Iaô
É do Batuquegê
Ele é do Reinado
É sangue de Malê
É santo sim senhor

ENTREVISTA: HERMÍNIO BELLO DE CARVALHO (poeta e compositor)

´O mundo ficaria mais pobre sem a música de São Pixinguinha´

Qual foi seu primeiro contato com Pixinguinha?

Deu-se na casa de Jacob do Bandolim, na década de 50. Ele chegou e logo pediu ´quero um chóps ´ - e é evidente que pedido de Santo não se nega. E foi então que ouvi, pela primeria vez, o ´Lamentos´ - tocado por ele e, acho, também pelo Jacob. Meus sentidos se turvaram.

Em 68, você fez “Gente da antiga”, com ele, Clementina e João da Baiana? Como foi esta reunião de entidades?

Na verdade, até hoje me pergunto por que não chamei também o Donga - um belo amigo. Mas era um disco que aproximava Clementina de outras duas figuras que freqüentaram, como ela, a casa de Tia Ciata. E havia, sobretudo, um repertório que fatalmente se perderia no tempo, caso não fosse logo registrado - já que João e Quelé eram detentores de informações que vinham sendo repassadas por gerações - e a isso chamamos de tradição oral...

Você estava na Banda de Ipanema, quando Pixinguinha morreu. Havia estado com ele na mesma manhã, ao lado do fotógrafo Walter Firmo. O que você se lembra daquele 17 de fevereiro de 73?

Foi uma peça que o destino nos pregou. E, na verdade, Pixinguinha já havia deixado um recado em minha casa, me convidando pro tal churrasco. Só encontrei o recado depois do velório. Fui à casa dele porque me bateu uma enorme saudade do velho - e pedi ao Firmo que não levasse a máquina, veja só. Até hoje nos perguntamos por que fiz isso. Teria sido o último registro, em vida, do Mestre e parceiro. Quando recebi a notícia, corri pra casa do Mauricio Tapajós, onde estava - acho - o pessoal do MPB-4. Foi uma desolação só.

Você esteve diretamente envolvido no lançamento da biografia do Sérgio Cabral e na criação do projeto Pixinguinha. Fala sobre estes dois processos.

Foi bom você me perguntar sobre isso, porque aceitei a curadoria do Pixinguinha mediante a promessa de serem reeditados os projetos Lucio Rangel, de Monografias, e o Radamés Gnattali, de discos paradidáticos. Por enquanto, relançaram 4 títulos do Jota Efegê (que não faziam parte do Projeto), e o livro do Sergio - que, segundo ele, inaugurou sua carreira de biógrafo. Grande biógrafo, aliás.... Corre um boato de que a Petrobras teria cortado a verba do Projeto Pixinguinha para este ano. Seria um crime de lesa-cultura. O Projeto é formador de platéias, oxigena o mercado de trabalho do músico.

E as letras de choro, você que fez “Doce de Coco”, fez com Pixinguinha “Fala Baixinho”, elas continuam sendo muito questionadas? Qual a melhor maneira de lidar com os purismos?

Isso já me incomodou mais. Aantes de mim, o Vinicius já letrara um choro de Nazareth, e o próprio Jacob - a maior autoridade em choro - também fizera uma letra pro ´Ingênuo´, do Pixinguinha. Se alguém trouxer uma procuração do além protestando contra a leitura que fiz pro “Noites Cariocas” e pro “Doce de Coco” do Jacob, que me apresente. A melhor maneira de lidar com os purismos é desafiando-os. Procuro sempre vencer preconceitos. Mas a burrice existe, e é um cancro que não tem remédio...

O que seria da música sem Pixinguinha?

Diria que o mundo ficaria mais pobre sem a música de São Pixinguinha...

Henrique Nunes
Repórter
(Matéria do Jornal Diário do Nordeste 23/04/08 - http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=531400)

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Tradição No Parque

"Muita gente compara aqui com a Mocinha!", avisa Célia, filha do saudoso Zé Bezerra, que dá nome ao estabelecimento desde os idos da década de 40. E parece mesmo. Um misto de Arlindo e Mocinha, o Bar Zé Bezerra "100% Samba" - antes funcionando só como mercearia - prima pela tradição, que hoje já encontra-se em sua terceira geração. "Isso aqui era do meu avô, a nossa casa é do lado. Então hoje a gente tá levando pra frente o que ele construiu", afirma o neto Marcos Paulo, que faz as vezes de garçom com outros funcionários. Na parede azul, dividindo as atenções com fotos de assíduos freqüentadores/músicos e uma fileira inteira de Ypióca e Sapupara, um espaço reservado para a saudade. Ainda recente, em meio aos santos de devoção. "Minha irmã, Regina, era quem cuidava do bar. É que hoje (29 de outubro) tá fazendo dois meses que ela morreu...", disse com os olhos marejados. "Mas é isso mesmo. Vamo continuar!". No alpendre do Bar Zé Bezerra, pessoas aglomeram-se naquela rua do Parque Araxá sempre aos domingos, de 17h às 20h, "às vezes se estendendo mais um pouco". Reunindo em torno de dez músicos, em sua maioria veteranos, o "cabeça" da turma é o cantor e cavaquinista Carlos Alberto, 54, mais conhecido por Carlão. Ele, mais do que ninguém, reafirma a autenticidade do samba feito no bar. "Aqui vem todo mundo e é na base da livre e espontânea vontade, entendeu? Você não vê um momento de confusão e a nossa base é o chorinho e o samba. Não aceitamos pagode, aquelas danças, aquela coisa, tal... Já sobre Zé Bezerra... "ele era um típico senhor do interior, mas tinha momentos hilários. Era como o seu Lunga, tinha resposta pra tudo!". (Matéria do Jornal O Povo)