segunda-feira, 27 de junho de 2011

Nelson Cavaquinho e a festa da saudade

Contam por aí que, certa vez, Nelson Cavaquinho (1911-1986), então um membro da cavalaria da Polícia Militar do Rio de Janeiro, subiu o morro da Mangueira para fazer sua ronda quando decidiu parar para acompanhar uma roda de samba que havia por ali. Na hora de ir embora, não viu mais o seu cavalo. Vovô, o cavalo, não esperou o compositor e decidiu voltar sozinho para o quartel. Como prêmio, Nelson ganhou mais uma detenção. “Eu ia tantas vezes em cana que já estava até me acostumando com o xadrex. Era tranquilo, ficava lá compondo. Entre as músicas que fiz no xadrez está Entre a cruz e a espada”, comentou tempos depois.
O tom cômico desta história é um contraponto do homem de cabelos brancos que cantava com frequência sobre amores fracassados, saudade e, principalmente, a morte. Em Quando eu me chamar saudade, por exemplo, ele diz: “Depois que o tempo passar/ sei que ninguém vai se lembrar que eu fui embora/ Por isso é que eu penso assim/ Se alguém quiser fazer por mim/ Que faça agora”. Sua ordem foi atendida e ele viu muito do seu trabalho ganhar vida nas vozes de Elizeth Cardoso, Cyro Monteiro e Dalva de Oliveira.
Em 29 de outubro próximo, Nelson Antônio da Silva completaria seus 100 anos. No entanto, quis o destino que ele se tornasse saudade em 18 de fevereiro de 1986, vitimado por uma enfisema pulmonar. Imortalizado em canções como A flor e o espinho, Folhas secas e Pranto de poeta, o sambista entrou este ano sendo homenageado pela sua Estação Primeira de Mangueira, com o enredo O filho fiel, sempre Mangueira, e agora ganha o disco Uma flor para Nelson Cavaquinho – 100 anos, pela gravadora Lua Music.
Produzido por Thiago Marques Luiz, o tributo mantém um clima elegante para 20 composições do poeta. Alcione abre a lista com Quando eu me chamar saudade. Benito de Paula brilha somente ao piano em Rugas. Ângela Ro Ro dá sua versão para a importante A flor e o espinho. Arnaldo Antunes aumenta o clima pesaroso de Luz Negra. Beth Carvalho, a quem o disco é dedicado por ter sido uma das principais intérpretes da obra de Cavaquinho, chega em Mangueira me chama. Além destes, também participam da homenagem Teresa Cristina, Diogo Nogueira, Zeca Baleiro, Fabiana Cozza e outros.

SERVIÇO

UMA FLOR PARA NELSON CAVAQUINHO – 100 ANOS
O quê: tributo ao compositor Nelson Cavaquinho, com a presença de Rita Ribeiro, Marcos Sacramento, Luiz Melodia, Emílio Santiago e outros. (20 faixas)Gravadora: Lua Music
Preço médio: R$28,80

Fonte: http://www.opovo.com.br/app/opovo/vidaearte/2011/06/27/noticiavidaeartejornal,2260470/nelson-cavaquinho-e-a-festa-da-saudade.shtml